segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A definição do projeto...

Como disse anteriormente - me formei em engenharia... e parece que todo engenheiro vai pro céu: sabe tudo, entende de tudo, dá pitaco em tudo, não faz nada errado, é o mais inteligente...  converse com um engenheiro e você vai se certificar disso que estou escrevendo (grandes tolices). Pois bem, estudei bastante durante minha vida, além de engenharia fiz Direito, Análises de Sistemas, MBA em Marketing, especialização em Engenharia de Software e inúmeras certificações na área de TI (Tecnologia da Informação) e, depois de velho, aprendi que tudo na vida precisa de um bom planejamento.

Como sou um engenheiro que provavelmente não vai para o céu, procurei ajuda... Faço parte de uma comunidade no Orkut (Construção Amadora de Veleiros) e solicitei ajuda.

A intensão inicial é construir um velerio com aproximadamente 30 a 33 pés de comprimento. É o tamanho máximo ideal para navegação em solitário e, se tudo for devidamente planejado, caberá no orçamento.

Até o presente momento (09/2011) estou analisando 3 projetos:

HS-33 ou FC-33. Design argentino – HS Arquitectura Naval e Yacth Design. 





Rocket 28 Cruiser - projeto de José Medeiros Camargo Aranha











Windy 900







Enquanto o projeto não está definido, solicitei ajuda a outro amigo - esse já construtor de veleiros de longas datas, Roberto Costa Sousa - no sentido de que ele me indicasse qual ferramental será necessário nessa empreitada.

Vejam o que ele me respondeu...

"...Pensando em produzir o meramente indispensável, eu diria que você precisa uma serra circular, uma boa furadeira que possa fazer giro inverso, com controle de velocidade, para que sirva também de parafusadeira. Assim, você tem uma maquina que pode ser furadeira, parafusadeira e lixadeira de disco. 

Uma plaina (mínimo uma manual e desejável uma elétrica). Desejável também uma lixadeira orbital.

A melhor furadeira média (eletrônica) é METABO (alemã) porque o gatilho da aceleração é gradual, com suavidade e progressão (ideal como parafusadeira), é potente e durável. Para quebrar o galho, até uma Skill.

Lixadeira melhor a quadradinha (amarelinha) DeWaltt, muito robusta, durável e eficiente.

Serra circular de mão, também recomendo uma DeWaltt, mas pode ser uma Bosch.

Desejável uma serra tico-tico DeWaltt ou Bosch (não compre marca mequetrefe porque não vale o investimento pela pouca eficácia ao serrar.

Muitos grampos (sargentos), tem uns chineses muito bons e baratos.

Martelo, formão, e algumas ferramentas manuais.

Mas na medida do possível, certamente pode haver uma série de máquinas bastante úteis e desejáveis e isso vai depender de sua disponibilidade.

Normalmente a própria necessidade vai indicando o caminho é sempre melhor não comprar uma maquina porque é atraente, mas somente porque é necessária..."

Construindo um sonho...

Sempre ouvi dizer que um homem para se considerar realizado, precisa ter feito três coisas na vida: plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Tive três filhos maravilhosos, plantei algumas árvores, e agora, aos 52 anos (maio de 2011) começo a me preparar para escrever um livro... não no sentido literal... longe de mim, não tenho vocação, sou muito ruim na língua vernácula, embora não tenha me saído mal no decorrer dos anos.... mas vou escrever meu livro ou seja, vou construir o meu sonho. Antes de descrevê-lo gostaria de postar algumas considerações.

Primeiro grande erro da minha vida – nunca planejei nada!

Um breve histórico...

Estou num momento muito difícil da minha vida, problemas de saúde (sou depressivo), problemas de ordem pessoal (tentando juntar os cacos de muitas perdas e feridas)... em um passado não muito distante tentei até dar um fim a tudo... mas hoje, ainda assim, acho que é o momento de construir esse sonho. Não sei se terei tempo de concluí-lo, por isso doravante registrarei minuciosamente, em solitário, todos os passos dessa construção... talvez isso ajude alguém, que como eu, precisa desesperadamente construir um sonho.

Nasci em Salvador-BA (BR), filho de emigrantes, classe média que durante as férias escolares a família alugava uma casa de veraneio em Amoreiras, pequeno povoado localizado na Ilha de Itaparica (BA), onde passávamos todo o verão... isso era religioso. Acho que meu pai trabalhava o ano todo só pra isso – veranear com a família na Ilha de Itaparica. Portanto fui criado junto ao mar.

Os anos se passaram, me formei em engenharia, me casei, fui morar no interior de Alagoas (Arapiraca-AL) tive filhos... tudo corria normal, com as alegrias e tristezas comuns do dia-a-dia... os meninos cresceram, foram estudar em Maceió (capital do estado) e começou a bater uma estranha sensação de vazio (um oco). Nesse período me veio a primeira luz da construção do meu sonho – ir morar em Maceió, junto com os filhotes, em frente ao mar (fui criado junto ao mar), comprar um barco e passar os finais de tarde lendo jornal e/ou tomando uma geladinha na orla da Pajuçara. De certa forma tudo isso se concretizou... só não foi completo por um pequeno detalhe – o barco.

Comprei uma lancha em sociedade com um cunhado. Decepção total, não pela sociedade mas  pelo fato de ter sido uma lancha. Vendi e comprei outra... foi outra decepção. E assim fui acumulando uma série de decepções, junto com cada lancha vendida ou trocada. Ao final de algum tempo descobri quais eram as reais utilidades de uma lancha (me desculpem os lancheiros de carteirinha), vamos lá: sustentar a família de um mecânico, alcoolizar os amigos nos finais de semana (e que é pior é que eu sempre bancava as contas – ou maioria delas) e criar problemas em casa, com a família.

De tudo isso ficou uma grande experiência... meu sonho não era só meu, não havia como construí-lo sem a participação daqueles que conviviam comigo – minha família. Como existia a idéia fixa do barco, resolvi partir para outra empreitada – comprar um veleiro. E o fiz de forma diferente... conversei com minha esposa Kaká (dizem que esposa é tudo a mesma coisa, só muda o CPF e o endereço... a minha é uma santa) sobre esse novo projeto – ter um veleiro. Aí vem a primeira lição a ser deixada:

Um veleiro não é uma coisa que você tem... é algo que a família tem. Portanto, pensar em ter uma embarcação sem a participação da família é a mesma coisa que entrar em uma barca furada – pode até demorar, mas ela vai afundar...

No decorrer deste post você entenderá bem o que estou tentando transmitir.

Embora seja tudo bicho que vive na água... existem enormes diferenças entre se ter uma lancha e se ter um veleiro.

Se você é um lancheiro amador, que pensa em curtir um final de semana com amigos/família, suas preocupações básicas são:

      a) Manter o barco abastecido para usá-lo no final de semana; 
      
      b) Juntar o máximo possível de pessoas pra ir com você... afinal de que vale navegar sozinho... e tem outros (que acredito serem a maioria) que têm a real necessidade de mostrar o seu troféu do sucesso (a lancha);

      c) Sair no sábado/domingo logo cedinho pra uma praia... pode ser até aquela praia que fica em frente a sua casa, aquela que vc pode ir a pé, não importa, porque seu horizonte é muito limitado... e retornar no final da tarde, antes de escurecer, afinal sabe-se lá o que vem pela frente (o espaço de tempo é muito importante – tem que ser rápido);

Se você é um lancheiro amador, que tem como hobby a pesca, suas preocupações são:

      a) Manter o equipamento sempre pronto pra usá-lo (lancha, anzóis, varas, etc);

      b) Conferir as condições do tempo;

     c) Ter o mínimo de pessoas a bordo (só o necessário, muita gente atrapalha)... e o seu troféu será apresentado em terra.

Agora, se você é um velejador, suas preocupações são:

      a)  Manter o equipamento sempre muito seguro. Um amigo me disse uma vez que o mar não tem cabelos pra você se pendurar nele nos momentos de sufoco.
      
      b) Conferir as condições de tempo... a maioria absoluta dos velejadores conferem as condições de tempo antes de velejar. E essa conferência é sempre por um período grande – dois dias antes e dois dias depois do dia da velejada. O horizonte de quem veleja é extremamente grande;
  
     c) O seu troféu é o mar... é algo que você curte, muito raramente você mostra aos outros. Não há a preocupação de sair e chegar logo, você sabe – antes mesmo de sair – que poderá levar um longo tempo até chegar ao seu destino, seja ele qual for;

      d) O meio ambiente é algo que deve ser preservado a qualquer custo, senão sua obra de arte principal (o mar) estará sempre rabiscado/sujo.

Fiz esses comentários para que se possa entender o rumo que as coisas tomaram nessa escolha do meu novo projeto – o veleiro.

Meu primeiro Veleiro...

Quando pensei em ter o meu primeiro veleiro, e acho que muitos pensam iguais, a idéia era construí-lo (não comprá-lo pronto), o mais espaçoso possível (apartamento tipo duplex), que eu pudesse viver nele e pudesse conhecer o mundo (conhece a teoria geocêntrica? Tudo gira em torno da terra... assim era eu, tudo girava em torno de mim... sorte que não fui o único a pensar dessa forma, se Aristóteles pensou, quem sou eu pra pensar diferente). Menino pretensioso esse hein!

Tudo errado... conversa daqui, conversa dali (quem planeja ter um veleiro tem que conversar muito com quem tem experiência), aprendi que construir um barco leva muito tempo, muita abnegação, muita paciência, muitos finais de semana perdidos – e era tudo que eu achava que não tinha.

Comecei a procurar um usado. O tamanho do apto duplex foi diminuindo ($$$), diminuindo, diminuindo... encolheu tanto que eu pensei que o meu veleiro poderia ser colocado na garagem da minha casa. 

Pra descrever o tamanho ideal do barco (principalmente se for o primeiro – sem/pouca experiência de navegação) é preciso ter o foco em alguns pontos muito importantes:

      a)      Quem vai ser sua tripulação?

A primeira, segunda terceira e quarta opções são – sua esposa, se você tiver uma, caso contrário é você só. Achar que pode contar com mais alguém é perda de tempo. Afinal quem estará disposto a sair com você sem se preocupar com o tempo de chegada? Os filhos podem ser a próxima escolha, mas nem sempre você poderá contar com eles... eles têm vida própria, amigos, namorada, esposa, futebol. Por fim, os amigos... com raras exceções (e eu tenho essas exceções – que também são velejadores), o amigo é aquele sujeito que chega na ora de embarcar e é o primeiro a sumir no momento em que o barco atraca... antes e depois da velejada você raramente os vê para ajudá-lo.

Definido qual a tripulação, você verá que resta muito pouca gente pra lhe ajudar, portanto pense no tamanho do barco de forma que você possa fazer tudo sozinho. Tomar conta de um duplex sozinho é muito difícil, tomar conta de um veleiro grande em alto mar, no meio de uma tempestade e sozinho é dez mil vezes pior.

      b)      O custo de manutenção.

Quanto maior o barco, maiores serão suas despesas (de forma exponencial). Achar que ter um barco é sinônimo de não ter despesas, só porque não paga condomínio, IPTU, luz e água é o maior dos enganos.

      c)       Qual a finalidade que você pretende dar ao seu barco.

A idéia inicial de quem vai possuir um veleiro (primeiro veleiro) é morar nele. Posso garantir que, para a maioria dos mortais, uma das coisas mais difíceis é morar num veleiro, embora conheça muitas pessoas que o façam, mas são histórias de vidas muito peculiares. Porque? Você tem que abdicar de muitas coisas que estamos acostumados... por maior que seja o barco o espaço é muito limitado. Luz e água potável são artigos de extremo luxo num barco. Escola dos meninos, trabalho da esposa, etc, etc... praticamente tudo conspira contra.

Se você já passou dessa fase (morar nele) e está com os pés no chão então lhe restará duas opções: esporte (correr competições de regata) e cruzeiro (longas viagens). Em ambos os casos, o tamanho ideal será o tamanho das suas necessidades mínimas. O barco de regata não precisará ser muito grande, e um de cruzeiro não poderá ser muito pequeno porque a legislação brasileira estabelece limites para áreas de navegação (costeira ou mar aberto).

Na compra do meu primeiro veleiro não levei em conta nenhuma dessas considerações (aprendi com o tempo)... só pensava na questão financeira ($), que obviamente é fundamental.

Pois bem, procurei, procurei... quando achava um que estava pronto, a grana era curta.. quando a grana dava, as condições não eram boas. É muito importante que se avalie diversas opções,  porém o tempo não pode ser muito extenso. Acho que o tempo ideal para pesquisa é de seis meses (só feeling)... você pode encontrar aquilo que lhe encanta na primeira pesquisa, mas existe uma boa chance de se arrepender depois.  Se demorar muito pode acontecer que aquele barco que faça parte da sua pesquisa já não esteja mais a venda (aí perde-se uma boa oportunidade)... também pode acontecer que com o tempo apareçam novas oportunidades na sua vida (a troca do carro novo porque a fábrica pra desovar estoques antigos está vendendo tudo com 90 parcelas sem juros). 

Então, meu conselho é: 

Se você está decidido a comprar um veleiro, dedique-se exclusivamente a isso (esqueça outras oportunidades) pesquise muito, converse com muitos e compre... você nunca encontrará um barco que seja tudo aquilo que você espera, sempre terá que fazer algo nele. Minha avó já dizia “... não falta sapato velho pra pé torto...”, o ideal era eu ter casado com uma garota que tivesse as formas da Gisele Bündchen, a inteligência da Marissa Mayer (aquela do Google) e a grana da Oprah Winfrey (mulher mais rica do mundo, segundo a revista Forbes), mas como eu sei que papai Noel não existe... a Kaká vai dando conta do recado direitinho.

Depois de muito pesquisar encontrei o Pareô, um Brasília 27S... cabia no orçamento, precisava fazer algumas coisas, mas é como eu já mencionei – nosso senso crítico tem que ser moderado.

Comprei o Pareô, reformei-o, e eu minha tripulação (minha esposa – Kaká e um neto de 3 anos - Felipe) fomos muito felizes por alguns anos. Velejamos algumas milhares de milhas pelo Brasil... do sul da Bahia até Natal(RN), inclusive a Regata Recife/Fernando de Noronha.

Mas dizem que alegria de pobre dura pouco... e vieram duas grandes fatalidades na minha vida, que me conduziram ao projeto de construção deste sonho... Há coisa de 3 anos minha esposa foi acometida de um câncer de mama (bastante agressivo) e pouco tempo depois (menos de 20 dias depois que minha esposa foi operada) meu neto morreu afogado na piscina do nosso apartamento. Não vou tecer detalhes dos acontecidos porque não é esse o meu propósito... mas posso lhes garantir que o mundo desabou para mim. Entrei num processo depressivo intenso, tentei o suicídio por pelo menos duas vezes (que eu me lembre), me afastei das minhas ocupações profissionais, descobri que era bi-polar com forte tendência para a depressão e vendi o Pareô (ninguém mais queria saber de água lá em casa e minha esposa não podia mais tomar sol por recomendação médica). Não saio mais de casa, pra ir à padaria é um sacrifício, amigos só por celular.

Tudo parecia ter realmente acabado... afinal de que vale a vida sem que possamos vivê-la?

No último mês de julho (07/2011), tomei uma decisão que poderia ser um novo marco decisório na minha vida – sabe, a encruzilhada. Comprei um barquinho, um Micro-Racer 19, escondido da família e levei-o para Salvador (onde tenho parentes). Preparei-o para a Regata Aratu-Maragogipe e ganhei o primeiro lugar na minha classe (Mini-Oceano)... a partir de então as coisas começaram a ganhar um novo rumo, nem tanto pela regata, mas pelo fato de poder re-orientar os meus sonhos.

Agora, já mais maduro, com muito mais experiência, com tempo, paciência, pouca grana, resolvi escrever meu livro, vou construir o meu sonho, ou seja vou construir o meu barco.

 Nos próximos posts descrevei minuciosamente este projeto. 

Aguardem!